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Flávia

Resenha de Mistério: Longo e Claro Rio, de Liz Moore


A resenha dessa vez é do livro “Longo e Claro Rio” (Long Bright River, no original) da autora americana Liz Moore, publicado pela editora Trama e escolhido como o livro de fevereiro de 2021 pela TAG Inéditos. Anunciado como um thriller policial, o livro lida sim com um mistério, mas muito mais relacionado às próprias experiências da protagonista e os segredos da sua família.


O enredo gira em torno de Michaela “Mickey” Fitzpatrick, uma policial com trinta e pouco anos que divide seu tempo entre patrulhar Kensington, uma das regiões mais dominadas pelas drogas da cidade da Filadélfia, e ser mãe solteira de um menino de quatro anos. Descendente de irlandeses, Mickey cresceu na área pobre da cidade e viu em primeira mão o efeito que as drogas têm sobre as pessoas. Sua mãe morreu ainda jovem por overdose e foi criada pela avó materna, que guardava mais mágoa do que amor pelas netas.


Logo no início do livro, Mickey é chamada para a cena de um crime, encontrando o corpo de uma mulher que foi assassinada. Pouco depois, outras mulheres começam a aparecer mortas na região, quase todas identificadas como trabalhadoras do sexo com problemas de abuso de substâncias.


Mas Mickey não é detetive e não é responsável por solucionar esse caso. Não, o que liga ela aos crimes é sua preocupação com sua irmã mais nova. Kasey Fitzpatrick é dois anos mais nova que Mickey e, apesar de terem sido muito ligadas durante a infância, seguiram caminhos opostos durante a adolescência e na vida adulta. Enquanto Mickey escolheu entrar para a polícia, Kasey foi afundando cada vez mais no mundo das drogas.


Já tem cinco anos que as duas não se falam, mas enquanto patrulha pelas ruas de Kensington Mickey sempre mantém o olho aberto para ver como a irmã está. Kasey pode quase sempre ser encontrada nas ruas, prostituindo-se ou procurando por drogas. Às vezes, quando tenta se limpar, ela fica umas semanas sem aparecer, mas sempre volta. Quando Mickey percebe que já se passaram uns dois meses desde que viu a irmã por ali, um alerta começa a tocar na sua mente. Juntando isso com os assassinatos que vêm ocorrendo, Mickey resolve que precisa descobrir o que aconteceu com Kasey e resolve investigar por si mesma ao invés de confiar nos detetives da polícia.


Os mistérios dos assassinatos é apenas plano de fundo para a história da família de Mickey e Kasey. O foco do livro é a narrativa feminina, a ligação entre irmãs movendo a história. A história lida muito com o uso de substância e os efeitos devastadores que tem sobre todos e achei que foi feito de forma muito apropriada, sem romantizar ou demonizar os usuários. Inclusive mostrando um ciclo muito comum. O livro lida muito com os tons de cinza da moralidade, com todos os personagens cometendo erros e acertos em momentos diferentes.


Fiquei muito satisfeita com o modo crítico que a polícia é apresentada no livro. Hoje em dia, me sinto meio estranha de ler livros policiais e, sem querer dar spoilers, mas tiveram cenas que deixam bem claro que eu e a autora temos opiniões semelhantes sobre o assunto.


O enredo é resolvido de modo bastante satisfatório e cheio de surpresas. Fiquei bastante feliz com a leitura, mas alerto que é um livro pesado, contando inclusive com um enredo que envolve relacionamentos entre menores de idade e adultos. Não é necessariamente fácil de ler, mas é tratado de uma forma justa e realista.

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