E vamos para mais uma resenha do mistério! Dessa vez, com um livro latinoamericano, “O Jardim de Bronze” do escritor argentino Gustavo Malajovich.
A Argentina tem uma tradição de livros de mistério, mas esse é o primeiro que eu leio. É claro que com apenas um livro como amostra não posso tirar conclusão nenhuma sobre a literatura argentina em geral, mas pelo menos esse achei bem diferente dos thrillers estadunidenses.
A trama gira em torno de Fabián Denubio, um arquiteto de Buenos Aires com problemas no casamento, que leva uma vida chatinha até que sua filha de três anos, Moira, desaparece misteriosamente junto com a babá. Sua esposa, Lila, que já estava lidando com depressão antes do fato, piora muito após o acontecimento e não é muito difícil presumir que fim ela leva.
Meses se passam e não há nenhum avanço no caso. Apesar da recompensa, ninguém viu Moira ou a jovem babá, Cecilia. A polícia alega ainda estar trabalhando no caso, porém não tem nenhuma prova ou nenhum caminho específico que estão seguindo. É aí que entra Doberti, um detetive particular que se oferece para ajudar a resolver o caso em troca da recompensa oferecida pelo governo.
Doberti e Fabián investigam o caso sozinhos e acompanhamos o processo, porém acontece de forma muito mais lenta do que costuma acontecer em livros de mistério. São poucos os momentos de ação e a investigação se estende por anos, sendo muito mais realista do que estou acostumada, mas também um pouco mais chato.
O livro foca muito em Fabián, com cenas dedicadas a como ele está se sentindo e o que anda fazendo. O meu maior problema foi que, apesar de simpatizar com a situação, não considerei que ele fosse um personagem muito carismático. Senti que faltou algo nele, só dar uma história trágica não é o suficiente para tornar alguém um bom personagem.
A parte mais interessante foram as pequenas cenas que temos desde o prólogo na visão do sequestrador de Moira. Elas são escritas de forma mais misteriosa, sem revelar o que realmente importa, não sabemos quem é a pessoa ou o que a levou a fazer isso, mas pegamos pequenos recortes de sua vida e é o suficiente para deixar curioso.
O final é surpreendente, não vou mentir, mas de um jeito… Incômodo. Senti que o escritor queria chocar com esse desfecho, mas fiquei um pouco decepcionada. Por mais que tivessem algumas poucas dicas ao longo do enredo, não foi o suficiente para ter aquele momento de “Ah! Mas é óbvio, como não vi isso antes?” que acontece com boas reviravoltas. Acredito que poderia ter sido melhor construído tudo isso, tornando o enredo mais pessoal e menos só uma investigação chata com momentos mundanos da vida do personagem. Além disso, achei que desperdiçaram totalmente muitos personagens, em especial a Lila. Se o livro tivesse focado mais nela, teria sido muito mais interessante.
No final, não é um mistério ruim, mas não funcionou para mim.
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