“In the woods” (ou “No bosque da memória”, como foi publicado pela Rocco no Brasil) é o primeiro livro de uma série sobre o Departamento de Homicídios de Dublin, capital da Irlanda, lançado em 2007 e escrito pela irlandesa Tana French. Apesar de não ter lido as continuações, me parece que cada livro pode ser lido individualmente, com os personagens principais mudando e a única continuidade relevante sendo a localização.
Em 1984, três crianças de 12 anos, Peter, Adam e Jamie, entram em uma floresta, próxima de onde moram no condado de Knocknaree, porém apenas Adam é encontrado, horas mais tarde, com sangue nas meias, catatônico e sem memória alguma do que aconteceu. Ao longo dos anos, nenhuma pista é encontrada e Peter e Jamie continuam desaparecidos. Adam vai para um colégio interno e, depois de se formar, troca seu nome para Rob, para evitar ser reconhecido, e então resolve entrar para a polícia.
Vinte anos depois, o detetive Rob Ryan trabalha no departamento de homicídios. Um dos mais novos no departamento, a maioria dos outros detetives não confia nele. Sua única aliada é Cassie, a única mulher do departamento e mais nova do que ele, que rapidamente se tornou sua melhor amiga e parceira (no sentido de detetive!).
A vida de Ryan começa a ruir quando é encontrado o corpo de uma menina de 12 anos no sítio arqueológico de Knocknaree. O cadáver não tem vinte anos e sim apenas dois dias, é uma morte recente, porém as semelhanças do crime estão ali. Knocknaree é um condado pequeno e sua única outra tragédia foi o desaparecimento de Jamie e Peter.
Apesar de abalado de ter que voltar para Knocknaree, onde não pisava desde a tragédia, Ryan decide continuar no caso. A única outra pessoa que sabe sobre sua identidade é Cassie e ela aceita cobrir para ele. Eles não precisam contar sobre ele ser Adam a não ser que se torne inevitável. E é possível que as tragédias não tenham nada a ver uma com a outra: a família de Katy Duvlin, a vítima, é estranha e suspeita. Sem falar que o pai de Katy lidera uma campanha política, tentando salvar a floresta de Knocknaree e sua herança. Uma estrada está prevista para passar por ali, destruindo a floresta e tudo o que tem por baixo, mesmo que os arqueologistas tenham dito que é um sítio riquíssimo e com importância histórica, e que precisariam de mais tempo para escavar tudo.
A premissa do livro é interessante, um assassinato de criança e uma conexão com o passado do personagem principal e eu tinha ouvido muitos elogios sobre o livro. Eu realmente tinha altas expectativas para ele, mas não consegui ser convencida. O mistério é interessante e a resolução foi boa, fez sentido e foi amarradinha, mas tiveram alguns problemas que eu impliquei.
A primeira questão é que o personagem principal, Adam Ryan, é insuportável. Nem sempre os personagens precisam ser pessoas boas ou legais, mas o grande problema aqui é que além de personagem principal, ele é o narrador. E ele é muuuito chato! Passei o livro inteiro querendo que ele calasse a boca, o que não é muito legal considerando que o livro depende dele. O livro é narrado como se Adam estivesse relembrando tudo no futuro, contando para o leitor o que aconteceu, com a visão de quem já sabe como tudo termina. E ele tem um tom de autoflagelação, como se estivesse reclamando o tempo todo sobre as decisões que tomou. Eu sou uma pessoa que costuma empatizar muito facilmente com os personagens, não importa o quão diferente eles sejam de mim, mas por algum motivo o jeito que Ryan falava sobre tudo me causava repulsa. Não é que ele fosse uma pessoa ruim (quer dizer, ele é um policial, tire suas próprias conclusões), mas é uma pessoa CHATA.
O segundo problema tem a ver com o mistério. A resolução dele depende de algo que os detetives ignoraram, mas EU falei logo que apareceu “isso é importante, eles deveriam investigar”. E eu simplesmente odeio quando eu sou mais inteligente do que os personagens em um mistério. O ideal para um livro desse tipo é que os detetives estejam sempre um pouco mais espertos do que eu, para que eu possa me surpreender, mas também não ser pega completamente de surpresa. Mas não foi o que aconteceu aqui, eu estava sempre um passo à frente do detetive Ryan.
O caso dá umas cinquenta mil voltas antes de chegar onde devia, e eu entendo que parte disso foi proposital, o objetivo é confundir mesmo, mostrar as outras possibilidades, mas algumas questões estavam óbvias demais. Os erros do personagem são basicamente o tema do livro, mas eu não senti que houve um desfecho satisfatório para isso. No fim, eu terminei decepcionada com o rumo que o livro levou e achei que para um livro que foi tão longo e fez tantas voltas, ele deixou de desenvolver o que seria mais interessante para mim.
Não significa que seja um livro ruim, o caso é encerrado e não achei que a resolução foi aleatória. Pelo contrário, só fiquei com raiva da demora para finalizar e achei que a autora subestimou os leitores. Chega a ter uma parte que o narrador fala diretamente com o leitor dizendo que não podíamos julgá-lo porque nós também fomos enganados. Só que… Eu não fui enganada. Eu fui mais esperta do que ele e me irrita que a autora tenha presumido que eu teria sido enganada junto.
Nota: 2 estrelas.
Observação: Apesar de ter sido traduzido para português, essa edição é difícil de se encontrar e a autora leu a obra em inglês.
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